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A morte, por norma, é um assunto tabu na nossa sociedade. É uma temática que nos assusta a todos, embora saibamos que é algo inevitável. Todos nós, adultos, já passamos por perdas de familiares e/ou amigos e prestamos a nossa homenagem a quem partiu e é sempre um acontecimento que nos angustia e passamos por um período de luto. O luto é um processo que decorre após a perda de alguém que amamos, sendo a perda mais irreversível que existe é a morte. O processo de luto é necessário e importante para que exista a integração da perda e a adaptação à morte da pessoa.
A temática da morte e do luto é um assunto tabu na nossa sociedade e tentamos não pensar no nosso quotidiano da irreversibilidade da morte e da nossa própria mortalidade. Mas e quando este tema envolve crianças? Quando morre uma pessoa da família próxima da criança, como um avô, tio ou amigo próximo como conseguimos transmitir a informação que o ente querido faleceu? Antes de mais é necessário que esta informação seja transmitida por um adulto com quem a criança tenha algum vínculo e que explique de forma simplista e tranquila o que aconteceu ao ente querido, sem o recurso a metáforas. Como exemplo, o adulto tem a tendência para transmitir que o ente querido foi para o céu, que foi viajar, que foi dormir e/ou foi transferido para outro hospital. O não confronto com a realidade acaba com que, dependendo da faixa etária da criança, interpretem no sentido literal e/ou que fiquem com a ideia que irão estar brevemente com a pessoa.
Deste modo, é importante explicar de forma simplista que o ente querido não regressará e que a morte é algo irreversível, tal como o que aconteceu ao corpo da pessoa. Em relação às cerimónias fúnebre, a criança por norma é “protegida” deste ambiente considerado “pesado” e triste. Contudo, a criança pode ser incluída nas cerimónias fúnebres, existindo o cuidado de explicar que é um momento que existe para a família se despedir da pessoa que faleceu e que é normal que se sinta triste no decorrer do velório/funeral. A faixa etária da criança é importante a considerar no modo em que o adulto explica o conceito de morte e tudo o que rodeia este tema. Segundo Piaget, de acordo com a sua teoria do desenvolvimento cognitivo infantil, as crianças dos dois aos sete encontram-se no estádio pré-operatório, tendo como uma das especificidades a irreversibilidade. As crianças, nesta fase de desenvolvimento, fazem a ligação da morte a um acontecimento de profunda tristeza, transmitido, também, pelos adultos e o ambiente criado face ao acontecimento. Porém, não conseguem compreender a irreversibilidade que a morte apresenta, ou seja, que o sujeito que morreu, não volta a viver, pelo que, muitas vezes, existe fantasias acerca do regresso da figura significativa ou da ida para junto deste.
As crianças desta faixa etária, devido a terem mais dificuldade de compreender a irreversibilidade inerente ao acontecimento, podem não exteriorizar as suas emoções e, desenvolver brincadeiras e fantasias, para se exprimirem. No estádio das operações concretas, segundo a teoria de desenvolvimento infantil de Piaget, observa-se uma tendência para as crianças, dos sete aos doze anos, começarem a compreender que a morte é algo irreversível e que pode acontecer a qualquer um, incluindo, elas próprias. Neste sentido, a partir dos sete/oito anos podemos ser mais objetivos e detalhados face à temática da morte e do luto, devido a uma maior consciencialização da parte da criança acerca do que é a morte e a sua irreversibilidade. Contudo, nas idades inferiores podemos falar acerca desta temática, sem o recurso a metáforas e tentar responder às questões que as crianças colocam, uma vez que será algo que despertará a sua curiosidade.
É uma tarefa difícil para o adulto, que certamente também ele está de luto face à perda ocorrida. Neste sentido, é importante a partilha das emoções experienciadas pela morte do ente querido e não esconder da criança que está a sofrer. O luto é um processo normal e decorrente da perda e é importante exteriorizar as emoções e permitir que a criança também o faça. Igualmente importante é ao longo do tempo partilhar com a criança recordações e momentos vivenciados com o ente querido, de forma que a criança percecione que apesar de fisicamente já não estar presente, a pessoa falecida continua a ser parte da sua vida e da família. Em suma, é importante a desmistificação que gira em torno do tema da morte e de forma objetiva explicar à criança todo o processo que envolve esta temática desde à comunicação da morte de um ente querido, à presença nas cerimónias fúnebres e ao processo de luto. A perceção que a criança irá ter acerca da morte irá ser mais realista e poderá, dependendo de vários fatores, estar mais preparada para lidar com a perda.
Irina Ribeiro Crispim
Psicóloga
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Convoca-se a Assembleia Geral de Sócios da ABEI para o dia 6 de dezembro, pelas 18h00, no Auditório da Quinta dos Bacelos.
Consulte a conovocatória, bem como a ordem de trabalhos, no documento em anexo.